A lógica do embranquecimento no conto de a gata borralheira: intersecções entre raça e gênero no contexto educacional
Resumo
Este estudo tem por objetivo compreender as dimensões de poder, sob as definições foucaultianas, a fim de identificar suas relações com os contos literários no que tange as intersecções entre gênero e raça. De modo a estabelecer as análises de modo mais fechado, selecionamos o conto literário “A Gata Borralheira”, dos Irmãos Grimm (2018). Originalmente ele fora intitulado de “Aschenputtel”, traduzido do alemão para o português como “Cinderela”, no entanto, tensionamos a mensagem explícita do termo ‘borralheira’ configurada na descrição: “viver entre as cinzas”. Assim, pretendemos suscitar debates acerca do que o adjetivo de escurecimento sob a via das cinzas, pensado junto à ideia de gênero e trabalho doméstico, acabam por ecoar em contos infantis como esse. As intersecções estarão sob a mira de Kimberlé Crenshaw (2002) para que as categorias de raça e gênero sejam pensadas à luz de discussões contemporâneas (BELARMINO; BORGES; MAGALHÃES, 2010; BETTELHEIM, 2018; CAMPOS; CASTELEIRA, 2020), implicando em uma possibilidade de defender que o conto por sua vez impede o deslocamento subjetivo e político no processo de construção da identidade negra e desnaturaliza a mulher enquanto subserviente no espaço social. Desta maneira, há a necessidade de ressignificá-lo para a efetivação de uma sociedade igualitária livre das amarras ideológicas da raça, do sexo, dos gêneros e das sexualidades.