Uso agudo de medicamentos por crianças de 0 a 11 anos

  • Eloah Silva Marcilio
  • Maria Catarina de Cassia Quirino
  • Edmarlon Girotto
Palavras-chave: crianças, inquéritos epidemiológicos, saúde infantil, uso de medicamentos

Resumo

A medicalização é um fenômeno presente na vida do indivíduo, atingindo significativamente crianças em idade escolar (BRASIL, 2019). A utilização aguda de medicamentos sem a orientação adequada é um fator de risco importante para o desenvolvimento de efeitos adversos e/ou interações medicamentosas (MORALES-RIOS et al., 2018), porém, ainda são escassos na literatura estudos avaliando esse fenômeno na população pediátrica. Portanto, objetivou-se com este estudo avaliar o consumo agudo de medicamentos em crianças de até 11 anos de idade. Para tal, desenvolveu-se um estudo transversal e descritivo, com dados coletados por meio de um questionário disponível na plataforma Google Forms para preenchimento pelos responsáveis por crianças de até 12 anos incompletos, durante o primeiro semestre de 2022. A divulgação do instrumento aos pais ocorreu em parceria com instituições de ensino da região metropolitana de Londrina, bem como divulgação em jornais da impressa de Londrina, Paraná. O consumo agudo de medicamentos foi avaliado considerando os 15 dias anteriores ao preenchimento do questionário. Para a análise, foi utilizado o programa SPSS versão 19. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina (UEL) (CAAE 54380921.2.0000.5231). Das crianças avaliadas (n=597), 42% (n=250) fizeram uso de medicamentos nos últimos 15 dias, com uma prevalência de 33,5% (n=200) na utilização daqueles de uso agudo. Dentre os medicamentos de uso agudo (Tabela 1), destacaram-se Dipirona (13,3%), Ibuprofeno (10,4%), Amoxicilina (6,8%), Paracetamol (6,5%), Maleato de Bronfeniramina + Cloridrato de Fenilefrina (4,9%), Prednisolona (4,6%) e Cloridrato de Fexofenadina (4,2%). Não foram identificadas 8,1% dos medicamentos utilizados. No que se refere à indicação dos medicamentos, verificou-se que 66,6% dos responsáveis relataram ter sido recomendada por um médico, 6,5% por indicação de um farmacêutico e 26,9% fizeram uso por conta própria, por indicação de terceiros ou não sabiam informar a origem da prescrição medicamentosa. A prevalência do consumo agudo de medicamentos, de 33,5%, manteve-se semelhante a outros estudos brasileiros, que variaram de 27,4% a 56% (CRUZ et al., 2014; PIZZOL et al, 2016). Como as condições agudas mais frequentes nesta população são febre, dor e resfriados (PIZZOL et al, 2016), espera-se maior prevalência de uso de antitérmicos e anti-inflamatórios (BRICKS, 2003; SILVA JÚNIOR, 2019; PIZZOL et al., 2016). O medicamento de destaque foi a Dipirona, amplamente comercializada no Brasil sem a necessidade de prescrição médica (MOLINARI; CANCELIER; SCHUELTER-TREVISOL, 2019). Ainda que se mostre segura, estudo mostrou que a maioria dos responsáveis administrou este fármaco em uma dose superior à preconizada (PERÉT FILHO, 2003), expondo crianças a riscos, superdosagem e efeitos adversos. Situação semelhante pode estar associada a outros medicamentos amplamente utilizados por estas crianças, como o ibuprofeno e o paracetamol. Outro grupo observado foi o dos antibióticos, em especial a amoxicilina. Estes estão entre os mais prescritos a crianças, principalmente entre 2 e 5 anos, sendo a amoxicilina citada em diretrizes internacionais como principal escolha no tratamento contra infecções da infância, como otite média, faringoamigdalite e sinusite (CRUZ et al., 2014; PIZZOL et al., 2016). Observou-se, ainda, quantidade considerável de utilização de medicamentos por conta própria ou por indicação de terceiros. A prática da automedicação pode, se utilizada inadequadamente, aumentar o risco de efeitos adversos, agravar o quadro e/ou mascarar doenças e interações medicamentosas (SILVA JÚNIOR, 2019). Concluindo-se, cerca de um terço das crianças utilizaram medicamentos de uso agudo nos últimos 15 dias, com destaque para analgésicos, antibióticos, anti-inflamatórios e antialérgicos. Ainda, a prática da automedicação mostrou-se importante, com cerca de 25% da amostra analisada.

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Publicado
2023-10-12