Velhas sementes, novas plantações

palavras antigas, faladas (con)sentidas

  • Vivian Karina da Silva
  • Flávia Angelo Verceze Universidade Estadual de Londrina

Resumo

 

“Escrever para não morrer, [...], ou talvez mesmo falar para não morrer é uma tarefa sem dúvida tão antiga quanto a fala” (Foucault, 2001b, p. 47).

Esse trabalho une arte literária – poesia - com psicanálise faz parte do nascimento do Projeto da Psicanálise Clínica e Itinerante Laço Social – uma clínica para além-consultório. Busca dar espaço para o surgimento do discurso da fala e da escrita por meio da arte – o que chamamos de “Literatura de Si”. Esses escritos não obedecem a regras, nem normas gramaticais – é a desgramática do Sujeito na cena do seu vocabulário próprio:

O importante, para nós, é que vemos aqui o nível em que – antes de qualquer formação do sujeito, de um sujeito que pensa, que se situa aí – isso conta, é contado, e no contado já está o contador. Só depois é que o sujeito tem que se reconhecer ali, reconhecer-se ali como contador. (LACAN, 1964/2008, p.28).

 

Partimos da premissa de que - quem pode contar sua dor se não for o seu próprio conta-dor? É a narrativa singular daquele corpo-sujeito que se nomeia, diante da posição e discurso vazio do analista. Ora, se pudéssemos pensar na escrita, como forma de vazão de si, o que seria um papel em branco, senão uma posição de vazio de letras, significantes, palavras? Um analista à espera que saia de si a novidade do inconsciente – “que fica em espera na área, eu diria algo de não-nascido” (Lacan, 1964/2008, p.30) – mas que no sujeito do inconsciente já é um velho (des)conhecido. O que metaforicamente chamamos de “velhas sementes, novas plantações: palavras antigas, faladas (con)sentidas” – daquilo que nos é velho e pela fala/escrita de si, sentida, traz à luz o nascido, novo - da ordem da novidade -  e ao mesmo tempo já sabido, pelo sujeito do inconsciente, dito por Guimarães Rosa em outros tempos “aquilo que vou saber sem querer eu já sabia”.

A aposta desse trabalho é no reachado-de-cada-um por meio da associação livre poética, da palavra que antecipa o sentido, mas diz do que é sentido por cada um. Sentimentos de raiva, alegria, ódio, angústia, paixão, tristeza, vazio, amor – de onde sai, portanto, esse sentido sem antes o significado desse vivido – pela vazão dos significantes que formam teias, cadeias, podendo dar espaço de des-aprisioná-los: “tropeço, desfalecimento, rachadura. Numa frase pronunciada, escrita alguma coisa se estatela” (Lacan, 1964/2008, p.32).

A escrita de si, antes do entendido por quem diz, antecipa a racionalidade cartesiana, é o processo do isso freudiano sendo gestado e podendo por meio analítico e artístico, ter espaço para nascer/sair, ou seja, a Oficina de Poesia pre-tende dar espaço às letras saírem de forma livre a partir da memória territorial dos lugares de Vida ocupados por cada um – cada inconsciente es e ins – crito.

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Publicado
2019-03-13
Como Citar
da Silva, V., & Verceze, F. (2019). Velhas sementes, novas plantações. Encontro Nacional De Saúde, Cultura E Arte-MCA, 8(2). Recuperado de https://anais.uel.br/portal/index.php/mca8/article/view/504
Seção
Resumos