A ARTE E O VAZIO: UM DIÁLOGO ENTRE PSICANÁLISE E O ATO CRIADOR EM MARCEL DUCHAMP
Resumo
Elevação de um objeto à dignidade da Coisa: assim é o modo pelo qual Lacan (1959-1960/1988) afirma a sublimação enquanto a capacidade plástica da pulsão em mudar de objeto e encontrar novas satisfações, tratando-se, desse modo, do destino pulsional fundamental, em que se revela a sua própria essência, isto é, como criação a partir do nada e do encontro sempre faltoso com o além e causa da ordem simbólica, o objeto real da pulsão: a Coisa (das Ding). Esta presentifica-se como vazio subjacente aos objetos simbolizados, diante da compulsiva tendência do aparelho psíquico em buscar reencontrá-la em outros objetos. Nesse sentido, a sublimação revela o além da miragem objetal, donde sub-repticiamente a estes, vela-se essa dimensão de criação psíquica oculta aos objetos percebidos. Tal acepção da dimensão simultaneamente criadora e velada coincide com as proposições do artista Marcel Duchamp, referindo-se ao mecanismo subjetivo implícito ao ato criador na produção artística. Diante disso, tencionou-se alcançar nessa pesquisa uma revisão bibliográfica e análise diligente do desenvolvimento conceitual da “sublimação” em Freud e Lacan, com ênfase na peculiaridade sublimatória da arte em desvelar a dimensão do registro do real, além da ampliação do diálogo interdisciplinar entre as teses acerca do “ato criador” por Duchamp e a metapsicologia, cujo resultado corroborou para uma fecunda comunicação entre esses campos, materializada no artigo, de publicação vindoura: “O desvelamento da dimensão do impossível através da arte: interlocuções entre sublimação em psicanálise e o ato criador de Marcel Duchamp”.