INTERSECÇÕES ENTRE DANÇA CONTEMPORÂNEA E PSICANÁLISE

Resumo

A convergência do campo teórico-prático da psicanálise e da dança contemporânea em relação à recognição do corpo como um espaço paradoxal resultante da elaboração do sujeito no campo do Outro (LACAN, 1958[1957] /1999), e da constante evocação de seus conteúdos subjetivos, é o que engendrou o presente trabalho de investigação da psicanálise como arte-ciência. Para tal, partiu-se da premissa de que ambas as perspectivas consideram o corpo um produto da articulação de registros simbólicos e reais, ressoante com o mundo externo através de impressões verbais, não-verbais e mistas. Nesse sentido, entende-se que a movimentação corporal diz de questões internas do ser dançante, o que evoca o ato criativo como uma das vicissitudes da força pulsional — destino esse possível devido à desobstrução das vias sublimatórias do sujeito. A invocação pulsional da subjetividade confere, assim, a rememoração de sentidos presentes nos gestos do dançarino e a instauração rítmica entre corpos, levando à suntuosidade das manifestações artísticas viabilizadas pela dança contemporânea (BORGES, 2019). Evidencia-se, então, que ao sobrelevarem a interioridade, as emoções e os afetos inerentes aos movimentos corporais, ambos os campos teórico-práticos reconhecem o aspecto relacional responsável pela singularidade e complexidade das expressões artísticas e dos modos de subjetivação do corpo pulsional na contemporaneidade. Além do referencial teórico supracitado, as presentes reflexões sobre intersecções entre psicanálise e dança contemporânea edificaram-se, também, sobre vivências práticas das autoras e asserções abordadas no grupo de estudos do Projeto de Ensino “Por uma psicanálise invocante: clínica, arte-cultura, sociedade”.