INVESTIGAÇÃO DA PREVALÊNCIA DE DERMATOSES ENTRE MÉDICOS RESIDENTES E ACADÊMICOS DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19: UM ESTUDO TRANSVERSAL
Resumo
Na pandemia de COVID-19, os profissionais da saúde intensificaram medidas de prevenção, como a higiene constante das mãos e o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs).1,2 Como consequência, houve um risco aumentado de dermatoses, sobretudo dermatite de contato (DC),1 acne secundária ao uso de máscaras (“maskne”)2 e eflúvio telógeno.3 O presente estudo objetivou comparar a prevalência de dermatoses entre médicos residentes e estudantes de medicina de uma universidade durante a pandemia de COVID-19. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética (CAAE: 63396922.2.0000.5231). Foram investigados residentes (grupo R) - recrutados para assistir os enfermos durante a pandemia de COVID-19 - e estudantes de Medicina (grupo E) - que participaram de atividades virtualmente. Realizou-se um estudo transversal observacional, com amostra de conveniência, de 01/03/20 a 28/02/22. Coleta de dados se deu por formulários próprios e os programas Stata® e Jamovi foram usados para análise estatística. Os resultados das características clínicas e demográficas são mostrados na tabela 1. As principais dermatoses entre residentes e acadêmicos de medicina são mostradas na tabela 2. Foi analisado o perfil dos participantes: em relação à idade, a média foi maior dentre os residentes, conforme esperado por ser uma pós-graduação (p=0,001). O sexo masculino foi mais prevalente no grupo R (53,2%), mas não houve relevância ao comparar com o grupo E (p=0,214). A maioria dos indivíduos era branco [residentes, n=42, 89,3%] e [acadêmicos, n=33, 70,2%], e não há relação direta desse fator com dermatoses. O estado civil mais prevalente foi solteiro (74,4% versus 100%, p<0,001). A composição de renda, também, não obteve diferença significativa entre os grupos (p=0,147). Não houve diferença na proporção de infectados por COVID-19 nos dois grupos (p=0,208), e uma hipótese seria que os acadêmicos se infectaram pelo descuido, enquanto os residentes mantiveram cuidados rígidos ao atender os infectados, como uso prolongado (maior tempo diário) de máscaras e protetores faciais (PF). Ademais, consoante com a produção científica prévia,1,2,3 as três dermatoses mais prevalentes do grupo de residentes foram a DC de mãos (46,8%), acne (42,5%) e eflúvio telógeno (38,2%), mas sem diferença estatística com o grupo E (p>0,05). A hipercromia pós-inflamatória da face foi a única dermatose com diferença estatística entre os grupos (17,0% vs. 2,1%, p=0,030), em consequência do atrito da máscara e “maskne”, além do uso de protetores faciais (estudantes não fizeram uso) - diminuíram a ventilação e facilitaram a inflamação local.2 Outras dermatoses foram estudadas, mas não foram significativas (p>0,05). Tendo em vista os resultados obtidos, pode-se inferir que há diferenças na composição social de residentes e estudantes que participaram do estudo e a hipercromia pós-inflamatória da face mostrou-se como a única dermatose estaticamente mais significativa entre residentes, provavelmente devido ao maior tempo de exposição às máscaras e PF pelo grupo R, enquanto a DC de mãos, a acne e o eflúvio telógeno estavam relacionados aos mesmos fatores (infecção e estresse, por exemplo) e cuidados (lavagens de mãos) em ambos os grupos. No entanto, é importante ressaltar as limitações quanto ao viés de seleção e o número de amostra neste estudo. Portanto, mais pesquisas são necessárias para entender o impacto das dermatoses durante a pandemia de COVID-19.