TENTATIVA DE AUTOEXTERMÍNIO POR MEDICAMENTOS: PERFIL DOS CASOS ATENDIDOS POR UM CENTRO DE INFORMAÇÃO E ASSISTÊNCIA TOXICOLÓGICA (CIATox) – 2017 a 2023
Resumo
A tentativa de suicídio é uma violência autoinfligida, que compreende uma série de ações como ideação, planejamento e tentativa, sendo um grave problema de saúde pública¹. Uma das formas de tentativa mais frequente é a ingestão de substâncias tóxicas, que causam um quadro de intoxicação exógena, caracterizada por sinais e sintomas decorrentes do contato com substâncias químicas, ocasionando efeitos adversos no organismo. Dentre os agentes tóxicos utilizados, os medicamentos têm prevalência nos casos de suicídio¹. Nesse contexto, este estudo objetivou descrever o perfil dos casos de tentativa de autoextermínio por medicamentos atendidos em um Centro de Informação e Assistência em Toxicologia (CIATox). Realizou-se um estudo transversal por meio da análise de prontuários de pacientes atendidos por um CIATox. O período de análise ocorreu entre os anos de 2017 à 2023, estabelecendo-se como critérios norteadores da investigação (1) casos envolvendo tentativas de suicídio e (2) o uso de medicamentos como agente de intoxicação exógena. Os dados foram dispostos em planilha do programa Microsoft Excel e analisados posteriormente. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE 45986415.1.0000.5231). Foram analisados 12.655 casos de tentativas de suicídio, sendo que 65,7% (Figura 1) desses casos continham a presença de pelo menos um medicamento, entre outros agentes, como herbicidas, raticidas e agrotóxicos. Dentre os casos de tentativas com uso de medicamentos, houve uma maior prevalência do sexo feminino (75,6%). Em relação à idade, destacaram-se as faixas etárias de 20 a 29 anos (31,6%) e 15 a 19 anos (21,8%), merecendo destaque para 10 a 14 anos (8,5%). Os casos ocorreram predominantemente no período das 18:00 às 23:59 horas (35,2%) (Figura 3) e nos meses de outubro (9,8%) e dezembro (9,6%) (Figura 2). Os principais medicamentos envolvidos nos eventos toxicológicos foram: Clonazepam (6,3%), Amitriptilina (3,9%), Sertralina (2,2%), Fluoxetina (2,2%) e Paracetamol (1,7%). Dentre todos os casos, observou-se 51 óbitos (0,5%). Tendo em vista os dados apresentados na pesquisa, é possível observar um predomínio expressivo de Clonazepam e Amitriptilina como os principais agentes causadores de intoxicação. Esse achado pode se relacionar com o aumento no número de casos de ansiedade, depressão e distúrbios do sono entre a população em geral, o que implica em maior busca e aumento do consumo destas medicações². Aliado a esse fato, ambas as medicações, mesmo necessitando de receita médica para sua obtenção, estão disponíveis em postos de saúde, tornando-as acessíveis aos pacientes. Ademais, os dados demonstram que o perfil recorrente nos casos de tentativa de autoextermínio tem se concentrado em faixas etárias cada vez mais jovens. Observou-se também um predomínio do sexo feminino, podendo estar relacionados há fatores como maior incidência de doenças mentais e crônicas neste grupo, bem como seu papel na sociedade e exposição a diferentes tipos de violência³. Dessa forma, a partir do presente estudo, fica evidente a necessidade da conscientização sobre a prescrição de psicoativos, visando um uso racional desses medicamentos. Além disso, os dados da pesquisa alertam sobre a necessidade de um olhar mais cuidadoso sobre as populações mais jovens, e sobre a população feminina, fornecendo aos profissionais um perfil epidemiológico que ajuda na identificação e intervenção precoce para prevenção de casos de suicídio.