PERFIL DA ESCOLARIDADE DOS PACIENTES COM HANSENÍASE NO BRASIL EM 2023
Resumo
A Hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pela bactéria Mycobacterium leprae que acomete sistema nervoso, tegumentar e respiratório. Pode acarretar incapacidade física e apresenta estigma social¹. O Brasil é um país que apresenta elevada incidência da doença, 16% dos casos no mundo², uma vez que muitos dos fatores de riscos relacionados estão atrelados a fatores sociais, como por exemplo a escolaridade. O objetivo do estudo foi conhecer o perfil de escolaridade dos pacientes com hanseníase no Brasil no ano de 2023. Trata-se de um estudo transversal, os dados foram obtidos a partir do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) abordando o período de janeiro de 2023 até dezembro de 2023. Os dados referentes a escolaridade foram agrupados em ensino fundamental incompleto, ensino fundamental completo, ensino médio incompleto, ensino médio completo, ensino superior incompleto, ensino superior completo, analfabetos e ignorados. Os resultados foram: 553 analfabetos, 2756 com ensino fundamental incompleto, 507 com ensino fundamental completo, 479 com ensino médio incompleto, 1089 com ensino médio completo, 106 com ensino superior incompleto, 375 com ensino superior completo e 1869 ignorados. Em 2018 foi realizada uma revisão sistemática e metanálise com 39 estudos incluindo os países: Brasil, Índia, Bangladesh, Indonésia, Mianmar, Egito, Filipinas e Sri Lanka, a qual evidenciou um risco aumentado de hanseníase nas populações com baixa escolaridade³. Em 2019 foi realizado um estudo de coorte com 100 milhões de brasileiros, atualmente o maior estudo para investigar determinantes sociais da hanseníase, o qual também evidenciou relação direta do nível de educação com a incidência da doença4. Assim como esses dois grandes estudos, a atual análise demonstrou que em 2023 apenas 4,8% dos pacientes com hanseníase apresentavam ensino superior completo. As regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste concentram 84% dos casos da doença, como também maiores índices de pobreza e, consequentemente, menores taxas de escolaridade. O analfabetismo foi associado a taxa duas vezes maior de risco para hanseníase³. A baixa escolaridade reflete e explica sua relação com a incidência da hanseníase, uma vez que está relacionada a menores rendas, menor acesso a alimentação e limita a população em aglomerados domiciliares. Este estudo apresenta como limitação a base de dados, a qual apresenta número elevado de portadores de hanseníase sem escolaridade descrita e a impossibilidade de correlação da escolaridade com a faixa etária. Outro fator importante de se destacar é o fato de a doença apresentar um longo período de incubação e o estudo ter analisado o período um ano. Como visto na revisão bibliográfica e confirmado neste estudo, a população com baixa escolaridade compõe a maioria dos pacientes com hanseníase. Sendo assim, medidas e campanhas públicas de saúde tornam-se indispensáveis para redução de incidência desta doença a curto e médio prazo, como também, a longo prazo são necessárias medidas em outras esferas sociais, como a educação, para proporcionar impacto e mudança na prevalência nacional desta enfermidade.