Lesão laringotraqueal em trauma cervical contuso por golpe em treino de luta

Palavras-chave: pneumomediastino, suporte avançado de vida no trauma, traqueostomia, trauma

Resumo

O Trauma Cervical Contuso consiste em uma lesão na região do pescoço provocada por um impacto direto ou indireto sem causar penetração. Colisões de trânsito, lesões desportivas e violência interpessoal são as causas mais comuns desse tipo de trauma. Devido a presença de vasos sanguíneos, do trato aerodigestivo e de estruturas neurológicas, o pescoço é uma região potencialmente perigosa para lesões traumáticas, podendo ser especialmente complexo o seu manejo. O atendimento inicial baseia-se no Advanced Trauma Life Suport (ATLS), a qual preconiza uma intervenção terapêutica precoce, primordial para minimizar complicações e otimizar desfechos clínicos. O objetivo desse trabalho é relatar o trauma e compreender a sua relevância, destacando a importância do seu manejo rápido e adequado. Paciente masculino, 34 anos, encaminhado ao serviço devido a trauma contuso de laringe com história de dois dias. Apresentou trauma em região de epiglote devido a um soco durante treino de luta. Procurou o serviço de saúde devido a rouquidão, disfagia e dor local moderada. Negou dispneia ou tosse. Ao exame físico, foi evidenciado enfisema subcutâneo. Devido a estabilidade do quadro do paciente, optou-se por realizar exames complementares para investigação de lesões. Tomografias de tórax e pescoço revelaram inversão da curvatura cervical fisiológica, pneumomediastino, bandas parenquimatosas de provável natureza atelectásica nos lobos pulmonares inferiores e na língula e distúrbio ventilação/perfusão. Realizada cervicotomia exploradora com traqueostomia, reparo e hemostasia da lesão. Evoluiu com boa adaptação à traqueostomia metálica, boa aceitação da dieta e sem episódios de disfagia. O Trauma Cervical Contuso, devido à complexa anatomia da região, pode provocar lesões de diferentes gravidades, as quais necessitam de abordagem precisa e imediata. As lesões laringotraqueais resultam normalmente de trauma direto na região cervical anterior ou hiperextensão súbita e de 8 a 10% dos pacientes com trauma cervical são admitidos com via aérea comprometida em sério grau. Na avaliação clínica inicial, deve-se buscar os sinais clínicos maiores (tabela 1), os sinais clínicos menores (tabela 2) ou a ausência de sinais. Além da apresentação de rouquidão, disfagia e dor local moderada, o paciente relatado também apresentava enfisema subcutâneo, o que sugeria lesão de vias aéreas. Em relação a conduta a ser adotada, toda vítima de trauma contuso deve ser atendida seguindo a sequência ABCDE, o qual preconiza a Manutenção de Vias aéreas, Ventilação e Respiração, Circulação com controle de hemorragias, Avaliação Neurológica e Exposição/Controle do ambiente. Neste caso, devido ao enfisema subcutâneo extenso, com suspeita de lesão laringotraqueal, era mandatória a cervicotomia exploradora com traqueostomia com reparo primário, conduta crucial para garantir a estabilidade respiratória e prevenir complicações graves, como a obstrução das vias aéreas ou infecções pulmonares. Conclui-se que o trauma cervical contuso demonstra-se desafiador devido à complexidade anatômica da região. A lesão laringotraqueal embora infrequente em traumas cervicais, tem alta morbimortalidade. Essas lesões podem ser penetrantes em sua grande maioria e contusas, em uma menor proporção, devido a proteção do esterno e da mandíbula. Qualquer paciente com história clínica de trauma cervical anterior deve ser avaliado para essas lesões, sendo o principal objetivo a ser alcançado a confirmação de uma via aérea segura.

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Biografia do Autor

Maria Beatriz Pereira Coelho, Universidade Estadual de Londrina

Estudante da graduação do Curso de Medicina da Universidade Estadual de Londrina - Londrina, Paraná, Brasil.
E-mail: mbeatriz.pereira@uel.br 

Gabriela Gonçalves da Silva, Universidade Estadual de Londrina

Estudante da graduação do Curso de Medicina da Universidade Estadual de Londrina - Londrina, Paraná, Brasil.

Raquel Gonçalves Fujisawa, Universidade Estadual de Londrina

Estudante da graduação do Curso de Medicina da Universidade Estadual de Londrina - Londrina, Paraná, Brasil.

Laura Mendes Trombini, Universidade Estadual de Londrina

Estudante da graduação do Curso de Medicina da Universidade Estadual de Londrina - Londrina, Paraná, Brasil.

Victor Luiz Pedroza Nascimento, Universidade Estadual de Londrina

Estudante da graduação do Curso de Medicina da Universidade Estadual de Londrina - Londrina, Paraná, Brasil.

Ester Nigro dos Santos, Universidade Estadual de Londrina

Estudante da graduação do Curso de Medicina da Universidade Estadual de Londrina - Londrina, Paraná, Brasil.

Carlos Eduardo Moutinho Zamuner, Universidade Estadual de Londrina

Estudante da graduação do Curso de Medicina da Universidade Estadual de Londrina - Londrina, Paraná, Brasil.

Daniel Miguel Mauro, Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina

Médico atuante no Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina - Londrina, Paraná, Brasil.

Publicado
2024-12-06