RELATO DE CASO: INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA AGUDA EM PACIENTE COM LINFOMA DE HODGKIN
Resumo
O linfoma de Hodgkin (LH) é uma neoplasia de células linfóides maduras, caracterizado histologicamente pelas células de Reed-Sternberg (HRS) ou suas variantes. Este trabalho tem por objetivo expor uma apresentação atípica de LH em paciente jovem e portador do vírus da imunodeficiência humana (HIV). HKTS, 44 anos, encaminhado ao hospital terciário para investigação de quadro de 3 semanas de tosse, cefaleia, febre e sudorese noturna, associado a epigastralgia, náuseas e vômitos, com perda de 7kg no período, evoluindo com quadro de icterícia e colúria. Previamente, ex-tabagista, etilista e portador do vírus HIV, para o qual fazia uso de Tenofovir, Lamivudina e Dolutegravir desde o diagnóstico há 3 anos, com bom controle viral. Na admissão, foi evidenciado pancitopenia, hiperbilirrubinemia às custas de direta, hipoalbuminemia, aumento de enzimas canaliculares e aumento de provas inflamatórias. Devido à persistência de febre e síndrome colestática, foi iniciado antibiótico por suspeita de infecção em vias biliares (VB). Foram afastados fatores obstrutivos em VB, porém exames de imagem demonstraram pólipos vesiculares, hepatoesplenomegalia e linfonodomegalia retroperitoneal. Realizado colangiorressonância para investigação que demonstrou sinais sugestivos de doença infiltrativa em fígado e múltiplas lesões em ossos da coluna vertebral. Realizada biópsia de medula óssea (MO) e solicitado biópsia hepática e de linfonodos retroperitoneais. Nesse período, o paciente evoluiu com anasarca, disfunção renal e discrasia sanguínea, com exames evidenciando insuficiência hepática aguda. Foram afastadas quaisquer doenças infecciosas oportunistas. Foi ampliada a investigação, sendo aventado também possibilidade de etiologia autoimune. Após 22 dias de internação, paciente foi levado para centro cirúrgico para realização das biópsias e colecistectomia, por suspeita de neoplasia associada em VB. Já em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), evoluiu com insuficiência respiratória aguda com necessidade de intubação orotraqueal e choque hemodinâmico, falecendo no dia seguinte. Após estudo das lâminas de biópsias (Figura 1), foi demonstrado por imuno-histoquímico tratar-se de Linfoma de Hodgkin clássico em MO e tecido hepático. Na maioria dos casos de Linfoma de Hodgkin clássico não há agente deflagrador identificado, mas sabe-se que há associação com algumas infecções, como o vírus Epstein-Barr. O acometimento linfonodal regional é predominante, sendo o comprometimento extranodal raro. Quando há acometimento da MO costuma associar-se com citopenias importantes. As manifestações clínicas incluem linfadenomegalia, febre, perda de peso, sudorese noturna e fadiga. A biópsia excisional do linfonodo suspeito é fundamental para o diagnóstico. O tratamento quimioterápico deve ser instituído com base no perfil histológico, no estadiamento e nas características clínicas de cada paciente. Logo, a partir desse caso apresentado, percebe-se que é necessário considerar e reconhecer outras formas de apresentação do LH para que o diagnóstico seja definido precocemente, bem como as implicações terapêuticas, visando melhorar o prognóstico.