ATENÇÃO HUMANIZADA AO ABORTAMENTO: UM OLHAR AMPLO PARA A IDENTIFICAÇÃO DA NÃO HUMANIZAÇÃO

  • Fabiola da Silva Miranda
  • Mary Neide Damico Figueiró
Palavras-chave: Aborto, Humanização, Direitos reprodutivos, Saúde

Resumo

Estima-se que ocorram no Brasil mais de um milhão de abortamentos induzidos ao ano, sendo uma das principais causas de morte materna e um grave problema de saúde pública. No atendimento ao abortamento humanizado no SUS, ainda são observadas dificuldades para efetivar uma assistência humanizada. O objetivo da pesquisa consistiu em conhecer a experiência de mulheres que decidiram pela Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) e o significado que elas dão a essa experiência. De caráter qualitativo e centrada na Psicologia sócio-histórico cultural, a pesquisa do tipo depoimentos, desenvolvida de 2011 a 2015, foi aprovada pelo Comitê de Ética da UEL e pautou-se em entrevistas individuais, anônimas e gravadas. Foram entrevistadas 10 mulheres da região sul do Brasil. Quanto à forma como as IVGs foram realizadas: três o fizeram em clínica, com segurança; seis usaram Cytotec e uma diz ter feito uso de chá de canela. Das 6 entrevistadas que usaram Cytotec, todas compraram de forma escondida e arriscada, tais como, em camelódromo e com vendedores de drogas e seguiram orientações diferentes para a posologia e modo de usar, dadas pelos próprios vendedores. Duas delas compraram Cytotec falso e tiveram que fazer uma segunda tentativa. Das 7 entrevistadas que realizaram o procedimento por conta própria, 6 não buscaram ajuda em hospitais, após a tentativa de abortamento, por medo serem acusadas e até mesmo presas. Não buscar essa ajuda é correr riscos e a única que buscou ajuda no hospital após o aborto com Cytotec (aos 18 anos), vivenciou dor intensa durante a curetagem, porque o médico não fez uso de anestesia, o que é considerado como atendimento não humanizado. Faz parte dos direitos reprodutivos o acesso aos benefícios dos progressos científicos e o Cytotec é um deles. Concluímos que a não humanização já começa a se fazer presente no momento em que a mulher opta pela clandestinidade, tornando-se vulnerável a riscos, sequelas e sofrimentos. Assim, a humanização do aborto só será integral se estiver inserida num contexto de descriminalização do mesmo, o que requer lutas neste sentido, e conscientização de toda sociedade.

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Publicado
2018-03-20
Como Citar
Miranda, F. da S., & Figueiró, M. N. D. (2018). ATENÇÃO HUMANIZADA AO ABORTAMENTO: UM OLHAR AMPLO PARA A IDENTIFICAÇÃO DA NÃO HUMANIZAÇÃO. Encontro Nacional De Saúde, Cultura E Arte-MCA, 8(1). Recuperado de https://anais.uel.br/portal/index.php/mca8/article/view/48
Seção
Resumos