O corpo pesquisador e o corpo pesquisado: os processos de inserção do pesquisador, para a construção coletiva junto ao movimento transexual de Londrina, de um veículo popular e comunitário de comunicação
Resumo
O objetivo deste artigo é revelar a entrada do extensionista pesquisador/cartógrafo, do campo da comunicação popular e comunitária, no território trans. Quais as implicações e afetos múltiplos geram no corpo pesquisador e no corpo pesquisado, que também é pesquisador e vice-versa. A via de mão dupla dessas pesquisas concomitantes e a permissão das ativistas do movimento social, para nossa entrada no campo. A pesquisa se dá a partir das ações de extensão do Projeto “Plataformas Digitais: a produção comunitária de novas narrativas alternativas ao discurso hegemônico, como dispositivo de produção de novos sentidos”, em curso na Universidade Estadual de Londrina (UEL). O objetivo é a construção coletiva de um programa de rádio, cuja narrativa seja contra hegemônica à narrativa produzida pela grande mídia, que via de regra, as estigmatiza. Descobrir cada potencialidade na construção de uma nova narrativa, que possa interferir na construção de uma nova imagem das transexuais e travestis da cidade de Londrina, cidade do interior do Estado Paraná, interferindo no imaginário social acerca desta população. Para tanto a pesquisa utiliza-se da proposta metodológica da Cartografia Sentimental, de Sueli Rolnik, que se inspira na fonte cartográfica de Deleuze e Guattari. Toda inserção, afetações e agenciamentos, se transversalizam a partir do corpo pesquisador ao encontro com os corpos vibráteis e rizomáticos das trans, participantes do Coletivo Elity Trans. A metodologia teórica-pragmática-poética, da cartografia sentimental, possibilita que o pesquisador/cartógrafo narre em primeira pessoa as implicações com o campo. O processo de produção do programa de rádio já dura dez meses e os quatro primeiros programas para web rádio acabaram de ser finalizados. A produção de uma rádio revista eletrônica, denominada “É BABADO, KYRIDA!” é resultado de um processo de participação democrática, que reuniu as trans, os ativistas do Grupo Elity Trans, docentes e discentes da Universidade Estadual de Londrina e de outras universidades, tendo como eixo norteador a saúde integral da população trans e garantindo seu protagonismo. A narrativa alternativa em rádio visa revelar a diversidade de pontos de vista das pessoas trans sobre a realidade. O Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo, cuja expectativa de vida é de 35 anos. Diante destes dados alarmantes, o programa visa contribuir com a prestação de serviço à toda sociedade, esclarecendo sobre os direitos desta população, a fim de diminuir os estigmas sociais impostos e mostrar como pode ser rica a convivência com as diferenças.