Policiamento e gênero: visões entre policiais militares paranaenses

  • Cleber da Silva Lopes
Palavras-chave: Polícia Militar, Gênero, Paraná

Resumo

Estudos mostram que a integração feminina às polícias latino americanas vem encontrando obstáculos decorrentes do modo como os policiais concebem o policiamento e o papel que homens e mulheres deveriam desempenhar dentro dele. A representação do policiamento como uma atividade arriscada de enfrentamento violento da criminalidade, combinada com a visão segundo qual os homens são mais fortes e corajosos do que as mulheres, favorece a defesa da divisão sexual de funções dentro da polícia entre homens que deveriam se dedicar ao trabalho operacional de combate ao crime e mulheres que deveriam se restringir ao trabalho administrativo e de cuidado, gerando assim barreiras à plena integração das mulheres à polícia. Esse trabalho pretende contribuir para o entendimento da natureza dessas representações e barreiras. Ser homem ou mulher condiciona a percepção de que força física e coragem são atributos fundamentais para o policiamento? Influencia a visão segundo qual os policiais masculinos são mais preparados para as atividades operacionais e as policiais femininas para as atividades de cuidado e assistência? O artigo analisa essas questões por meio de análise quantitativa multivariada de dados provenientes de uma pesquisa de survey realizada em 2012 na Polícia Militar do Estado do Paraná (PMPR), Brasil. Os resultados indicam que homens e mulheres têm visões distintas sobre quem é mais apto a atuar nas atividades operacionais. Os homens tendem a pensar que as mulheres são menos capazes do que eles no desempenho dessas atividades. Já as mulheres discordam dessa ideia. Isso indica haver na PMPR obstáculos informais postos pelos homens à plena integração das mulheres à polícia, bem como atitudes de resistências a esses obstáculos por parte das mulheres. Todavia, essas atitudes de resistência convivem com uma visão masculinizada do policiamento que acaba por favorecer os homens. Os dados indicam que homens e mulheres concordam igualmente com a visão de que o policiamento é uma atividade que demanda força física e coragem, a despeito do fato de sabermos que as qualidades mais exigidas no policiamento não são essas e sim a sensibilidade para prestar serviços a pessoas em situações de vulnerabilidade e o senso de justiça para dirimir conflitos que não envolvem violações claras da lei criminal. Essas são qualidades socialmente associadas ao universo feminino e valorizá-las em detrimento da coragem e da força física implicaria em um possível fortalecimento da posição das mulheres nas atividades de policiamento, o que não ocorre. Assim, as mulheres buscam se colocar como iguais dentro de um contexto de representações sociais permeadas por valores masculinos ao invés de questionarem o sentido desses valores para as atividades policiais. Em outros termos, aceitam a visão masculinizada do policiamento e procuram se afirmar como iguais dentro desse universo.

Downloads

Não há dados estatísticos.
Publicado
2021-01-14
Seção
Anais do V Simpósio Gênero e Políticas Públicas