Teorias sociais sobre agência: contribuições do feminismo negro e da abordagem das capacidades
Resumo
Nos estudos sobre as vivências das mulheres, por vezes enxergamos puramente subordinação; outras vezes vislumbramos demasiado voluntarismo. É possível uma agenda de pesquisa feminista que realize investigações com mulheres escapando de concepções ontológicas que as tomam universalmente como vítimas, sem capacidade de agir e escolher, ou, outras vezes, atomizadas e com elevada capacidade de transformação? A presente proposta trata da problematização sociológica a respeito das teorias da agência em busca de formulações capazes de orientar estudos que abordam a autonomia de mulheres em situação de pobreza. Partimos das perspectivas críticas feministas, embasando-nos em discussões travadas por intelectuais de diferentes nacionalidades e matizes teóricos que buscaram apresentar um novo ponto de vista acerca dos olhares que emergiram sobre o indivíduo e a individualidade na modernidade. Temos como objetivo informar investigações sobre a autonomia das mulheres em situação de pobreza, em grandes centros urbanos, adotando-se a perspectiva interseccional que leva em consideração, em especial, os cruzamentos de gênero, raça e classe. Nesse empreendimento articulamos contribuições do campo do feminismo negro com a abordagem das capacidades e a sociologia da reflexividade. Com este esforço, estamos compondo uma moldura explicativa que nos permita acessar as percepções que nossas entrevistadas apresentam sobre suas trajetórias e aspirações de vida, observando um repertório de narrativas que interconectam as relações de gênero, de classe, de trabalho e da família.