Feminilidades(s)
mulheres lésbicas à visão do Teste de Apercepção Temática (TAT)
Resumo
A mulher, assim como a feminilidade, foi constantemente representada no decorrer da história a partir da oposição entre sedutora e pudica. Considerando a feminilidade nesta adjetivação, Freud indica que a mulher encontraria, de modo inconsciente, a autêntica feminilidade somente por meio da maternidade, indicando que as outras possibilidades envolveriam a recusa generalizada da sexualidade e a homossexualidade. Esta última apresenta um histórico de preconceitos e um processo de (des)patologização nas ciências. Ao longo deste processo tem-se que as teorias de Lacan e Butler apresentam formulações divergentes das de Freud acerca da marca de feminilidade nas mulheres. De modo geral, testes psicológicos não são usuais em pesquisas acerca da feminilidade ou da lesbianidade, residindo neste aspecto um dos interesses da pesquisa de Mestrado em Psicologia, em andamento, da primeira autora. Pretende-se apresentar aspectos teóricos e a análise qualitativa de quatro mulheres participantes da pesquisa (das quais duas identificam-se como lésbicas e as outras duas, como heterossexuais). A busca pelas participantes ocorreu por meio de divulgação em redes sociais e por meio de contatos da própria pesquisadora. Foram selecionadas 13 pranchas do Teste de Apercepção Temática (TAT) para serem aplicadas em cada participante. Cada prancha utilizada apresenta uma imagem de uma situação humana (com exceção de duas pranchas abstratas) e a tarefa a ser realizada pela participante é contar uma história com início, meio e desfecho, descrevendo os sentimentos e pensamentos das personagens principais. A categorização do teste embasa-se no sistema morvaliano, adaptado ao contexto brasileiro por Scaduto. Quanto aos resultados, os temas principais que se apresentaram nas histórias das quatro participantes foram machismo, feminismo, conjugalidade e relação mãe-filha, sendo que todas elaboraram, na maioria das pranchas, histórias com protagonistas femininas. Também cabe constar que as heroínas das histórias, de forma geral, buscam ou reivindicam direitos e objetivos que se opõem a um sistema opressivo, machista ou patriarcal, independente da ambientação da história em período antigo ou contemporâneo e independente da orientação sexual da participante. Aventa-se, assim, que a feminilidade atualmente apresenta-se como um processo de subjetivação que precisa se fazer individualmente, sem fixidez, sem modelo representativo e que pode gerar múltiplas existências de feminilidade, sejam as mulheres lésbicas ou heterossexuais.