A música como forma de comunicação do adolescente no setting psicanalíto
Resumo
A adolescência corresponde ao período do desenvolvimento psicossexual nomeado por Freud como fase genital. O indivíduo vivencia emoções tão intensas e apresenta comportamentos que demandam reflexões a ponto já ter sido nomeada Síndrome Normal da Adolescência por outro autor. O jovem lida com o luto pelo corpo de criança e pelos pais da infância, necessitando lidar ainda com a fantasia da bissexualidade. Nesse período, as relações objetais se estabelecem de forma mais sofisticada e a vivência da sexualidade deixa de ser, apenas, autoerótica e passa a ocorrer a busca pelo objeto. Logo, é considerado como um período de passagem para a vida adulta. Assim, o ego e o superego desenvolvidos a partir das figuras parentais introjetadas são contrastadas com a necessidade em se inserir em grupos. São comuns dúvidas ideológicas, culturais, políticas e religiosas, gerando inconformidades internas de personalidade. Em um contexto no qual predominam relacionamentos como “ficar sem compromisso” e uma cultura que impõe padrões comportamentais, são naturais os conflitos sexuais. Este trabalho objetiva apresentar o assunto da sexualidade na adolescência revelada através do funk, ritmo musical que inclui letras com conteúdos referentes ao erotismo. Trata-se de um fragmento de uma pesquisa maior de mestrado, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual de Londrina. O estudo foi realizado através do método clínico-qualitativo a partir da entrevista com uma psicanalista, que assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados foram explorados pela técnica de análise de conteúdo. Frequentemente, pacientes adolescentes levam seus celulares para as sessões a fim de mostrarem algum conteúdo. É uma forma de se expressarem, podendo incluir até mesmo questões ainda inconscientes. No fragmento em questão, verificou-se que face à dificuldade em exteriorizar o assunto em palavras, a sexualidade foi comunicada através dos funks denotados durante as sessões, cabendo à analista a interpretação da significação do tema para o paciente. Atualmente, esse ritmo é conhecido por suas letras ambíguas que abordam atitudes sexuais. Seja qual for a situação introduzida no setting terapêutico, é uma forma de manifestação inconsciente, sendo um instrumento incluído como possibilidade de compreensão analítica. Dessa maneira, a associação livre de ideias é exercida de modo lúdico, tendo o gênero musical em evidência como facilitador desse processo.