Migração e deslocamentos
por uma sustentabilidade afetiva
Resumo
Deslocar-se no espaço geográfico consiste em uma “necessidade inerente a vida” (Justo, 2012, p. 21) que propiciou ao homem o descobrimento de novos espaços, relações sociais e condições de sobrevivência. Segundo Regadas (2011), há milhões de anos, os australopitecíneos (uma espécie ancestral ao Homo Sapiens Sapiens), já adotava a postura bípede e valorizavam o deslocamento. As mudanças corporais desse primata implicaram o abandono da segurança oferecida pelas árvores e possibilitaram, posteriormente, que uma das primeiras espécies do gênero Homo pudesse se deslocar e sobreviver às novas circunstâncias ambientais. O Homo Erectus foi o primeiro ancestral humano a sair do continente Africano e migrar para outros locais. Atento a este relevante aspecto da nossa história, o presente estudo teórico teve por objetivo compreender a importância do deslocamento e, mais precisamente, como se dão os processos migratórios no contexto capitalista globalizado. Para isso, a pesquisa foi dividida em dois momentos: primeiro, buscou-se compreender a importância do deslocamento na história para, em seguida, analisar como na atualidade os migrantes encontram-se em situação de vulnerabilidade social que tornam o ir e vir ainda mais incerto. Como resultado, a pesquisa demonstrou que o migrante da atualidade, na prática de deslocamento, depara-se com diferentes situações que o expõem a riscos. Dentre eles, pode-se destacar a própria organização econômica globalizada atual que, voltada para uma abordagem produtivista da existência humana, dificulta o deslocamento daquela parcela da população que não está diretamente engajada em seus pressupostos. Exemplo disso é que alguns países, como os Estado Unidos, têm determinado o fechamento das fronteiras para o migrante que, aos olhos dos seus governantes, ameaçam seu sistema político, econômico e social. A Inglaterra também buscou colocar em prática medidas que vão ao encontro dos impedimentos migratórios, tomando a decisão de sair da União Europeia, dentre outros motivos, em decorrência do intenso fluxo de imigrantes no continente (García-Lozano & Fuente, 2017). Constata-se, assim, a preocupação das nações em controlar as suas fronteiras e os processos de deslocamento, impedindo-os ou mesmo criminalizando-os em nome da soberania nacional e da proteção da sua população. O estudo conclui que os processos migratórios configuram-se em torno de riscos incontornáveis de sobrevivência, mas, por outro lado, colocam em curso também uma variação afetiva dos migrantes, permitindo trocas e gerando novas potências de relação e contato com o diferente. Daí a possibilidade de pensar uma sustentabilidade afetiva por meio da qual essa população, que encontra no deslocamento sua única possibilidade de continuar viva, possa se potencializar e continuar aberta à experimentação dos espaços e dos encontros.