A pesquisa como resistência

  • Sonia Regina Vargas Mansano Universidade Estadual de Londrina
Palavras-chave: pesquisa; resistência; criação

Resumo

Os ataques dirigidos à educação e à pesquisa brasileiras requerem uma análise crítica sobre o tipo de política governamental vigente e os desdobramentos hostis que tomaram conta de nosso país, em especial neste ano de 2019. Diante desse cenário de sucateamento e agressão brutais à produção de saberes, cabe aos Programas de Pós-graduação (PPGs) de diferentes áreas de conhecimento construir estratégias de enfrentamento e resistência, mas também de potencialização dos seus pesquisadores. A presente conferência teve por objetivo explorar dois ângulos da noção foucaultiana (1988) de resistência. O primeiro ângulo abordou a relevância de construir de um corpo capaz de resistir às pressões, cada vez mais pautadas no produtivismo, que recaem sobre os pesquisadores. Para tanto, faz-se necessário compreender seus dispositivos, analisando as exigências colocadas e atuando no sentido de questioná-las sempre que necessário sem, com isso, comprometer o avanço do conhecimento e da ciência, tão importantes para nosso país. O que esse primeiro ângulo suscita é a relevância de manter-se informado, criar parcerias e fortalecer redes de apoio que facilitem a inserção dos pesquisadores nas exigências burocráticas, sem sucumbir a elas e, principalmente,  sem adoecer. Os índices de adoecimento entre pesquisadores, sejam eles profissionais já experientes ou estudantes que iniciam sua vinculação com pesquisas científicas, são significativos e atestam o quanto esse primeiro ângulo da resistência precisa ser debatido nas mais variadas instâncias da pesquisa nacional. Já o segundo sentido da noção de resistência aqui analisado refere-se às dimensões intensiva e sensível presentes nas práticas do pesquisador e que são tão necessárias para definir um campo problemático, elaborar teorias e metodologias, assim como detalhar as questões e acolher afetivamente seus desdobramentos no cotidiano. Nessa acepção de resistência, falamos em produzir  conhecimento a partir de uma perspectiva política, sensível, situada e comprometida com a transformação social. Um corpo esgotado (Deleuze, 2010) pela sistemática desqualificação que ora recai sobre a ciência e sobre a educação superior de nosso país (composta por exigências cada vez mais mercadológicas de uma produção infindável), torna-se fraco para resistir aos entraves que dificultam a produção de um pensamento vivo, crítico e mutante. O corpo esgotado é invadido por tristeza que  suprime tanto a sensibilidade para o encontro quanto a experimentação de outras possibilidades do pesquisar. Cabe lembrar que, nesse processo de despotencialização e esgotamento do pesquisador, o projeto político-governamental de desqualificação e enfraquecimento da ciência gera sujeitos cada vez mais tristes e incapazes de empreender lutas. O momento atual coloca-nos, então, diante de um triplo desafio: resistir e superar os ataques advindos das diferentes frentes sociais e governamentais conservadoras que veem na ciência um perigo a ser combatido; construir uma sustentabilidade afetiva no cotidiano universitário que potencialize os pesquisadores para fazer das pesquisas uma prática de resistência-criação; e, por fim, a luta para não sucumbir à tentativa governamental atual de transformar a universidade em uma mera servidora voluntária (La Boétie, 1982) do mercado.

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Publicado
2019-11-13