A Angústia patologizada
o lugar desse afeto para o sujeito contemporâneo medicalizado
Resumo
O sujeito do inconsciente, como é produto da linguagem, portanto, ser de palavra, não possui um lugar estabelecido na civilização. A ele é dada a tarefa de criar esse lugar e sustentá-lo, com base nos limites impostos pela sociedade e por ele mesmo. Entretanto, deduz-se que sujeitos que se submeteram a uma medicalização não aceitaram a mobilidade rígida, que parece haver no inconsciente, enquanto uma libido que direciona e ao mesmo tempo, liberta, como possibilidade para viver. Necessitaram, então, de um substrato externo para que essa alteração constante, característica essencial da pulsão, estacionasse. Parece que, assim, a angústia não se produz. A teoria psicanalítica aponta um efeito de diminuição do limiar da angústia por parte dos sujeitos e também de profissionais da área, analistas, em suma. Dessa forma, ele indica que a experiência analítica, por meio da medicação, começou a passar longe da angústia, sendo que, para Freud, a angústia sempre foi motor da análise. Assim, na sociedade atual, não há como sustentar a angústia e conviver com ela, caso não haja uma intervenção externa, química, para saná-la. Esse afeto, então, não é mais caracterizado enquanto um afeto humano, essencial à constituição do sujeito. Ele é identificado enquanto uma patologia e, portanto, deve ser curado. A angústia, de acordo com a teoria psicanalítica, é algo que se sente. Assim, ele a caracteriza enquanto um afeto desligado de sua representação, um afeto no corpo, que não possui palavras para representá-lo. Dessa forma, este trabalho aposta que um anestesiamento do corpo, com o abuso de recursos ao medicamento, produz uma dessensibilização do sujeito para este afeto. Ele se trata de um aviso inconsciente, como um sinal de fumaça, um sinal de alerta, sinal de angústia, de que algo do inconsciente não vai bem, que o ameaça e, seguindo esse sinal, pode-se produzir sentidos singulares a partir dele. Entretanto, quando essa angústia é tapada, não se descobre a causa do sofrimento, já que ela está sempre está no discurso, na palavra, no laço com o outro. O objetivo deste trabalho é analisar a relação entre a angústia e a patologização desse afeto em uma sociedade contemporânea que medicaliza sujeitos. Diante de um contexto de neurologização do sujeito atual, a angústia é colocada em lugar de doença, transtorno e, portanto, não pode existir, deve ser extinta pelo sujeito. Entretanto, segundo literatura da área, a falta é ameaçadora para o sujeito e a ausência dela posicionou o sujeito em uma condição de objeto, tirando-o de sua posição desejante e colocando-o no predomínio da angústia, da apatia e da alienação. Entende-se, portanto, que com a patologização da angústia, há um efeito contrário do esperado: uma inflação de angústia em um sujeito que não é capaz de produzir narrativa a partir dela, mas que é tomado por esse afeto e torna-se produto dele.