ORFANDADE, LUTOS E NARRATIVAS

O FEMINICÍDIO COMO EFEITO DE UMA NECROPOLÍTICA DE GÊNERO

Resumo

O presente trabalho trata-se de um estudo qualitativo que teve como objetivo analisar como a experiência do luto atravessa a narrativa de uma mulher adulta que vivenciou o feminicídio materno na infância/adolescência, buscando identificar elementos que apontam para a captura do luto como experiência doméstica, particular e individual ou como estratégias emancipatórias e transformadoras. A metodologia utilizou entrevista individual, com análise pautada no procedimento proposto por Schutze, separando conteúdo indexado e não indexado, enfocando a trajetória da participante Ana. Os resultados revelam que o luto foi marcado pelo silenciamento, pela despolitização e pela ausência de acolhimento institucional, além da precariedade material e abandono afetivo, mantendo a dor na esfera privada. Entretanto, a narrativa também aponta para vivências do luto como ação crítica e reconstrução de projetos de vida, em que a educação e a consciência sobre o feminicídio se configuram como estratégias de resistência.